Que histórias cotam as histórias?
Para Bettelheim(1980) os contos não tem a intenção de iludir a criança, mas expõem a todas as dificuldades fundamentais do homem. Os contos aguçam a imaginação, por serem formas simples e fechadas, contudo obedecem a uma lógica muito rigorosa,
o que possibilitou a análise formal de suas estruturas narrativas.
Em 1928, Vladimir Propp, folclorista russo, publicou a “Morfologia dos contos”, ou seja, segundo Gillig(1983) uma descrição dos contos segundo suas partes constitutivas ou estruturais e as relações dessas partes entre elas e com o todo. Propp tirou o tema da obscuridade expondo uma teoria sobre a estrutura narrativa, jogando luz sobre o que, antes, parecia não ter explicação, como afirma Matos(2005). Mas só foi descoberto na Europa ocidental por volta dos anos sessenta, como coloca Gillig(1983).
Ora a favor, ora contestando, o certo é que as teorias de Propp desencadearam uma série de estudos, citado inclusive por vários autores que se dedicam ao estudo dos contos. Divergência de pensamentos a parte, o importante é destacar que as teorias de Propp abriram uma porta para um estudo mais aprofundado sobre “os contos”, ao marcar a estrutura, ou melhor o “esqueleto” de um conto através de suas funções, nos fez enxergar o contos sob outras perspectivas. Propp dizia que, estrutura dos contos maravilhosos se repete à estrutura do rito, afirma Rodari (1982). Observe, por exemplo, que muitas pessoas já tiveram a sensação de ao assistem uma novela, ou mesmo um filme de que podem até prever o que vai acontecer, passo a passo, como se cada movimento fosse extremamente calculado e ao mesmo tempo previsível,
certamente ali estavam às funções de Propp.
Propp formulou três princípios: Os elementos constantes e estáveis da fábula são as funções dos personagens. O número das funções presentes nas fábulas mágicas é limitado. A sucessão das funções é sempre a mesma. No sistema de Propp são 31 as funções, suficientes, com suas variações e articulações internas, para descrever a forma, a estrutura das fábulas (Rodari, 1982):
1. Distanciamento: um dos membros da família se afasta da casa.
1. Distanciamento: um dos membros da família se afasta da casa.
2. Proibição: O herói e submetido a uma interdição.
3. Infração: o proibido é transgredido.
4. Investigação: o agressor tenta obter informações.
5. Delação: o agressor recebe informações.
6. Armadilha: o agressor tenta enganar a vítima.
7. Conveniência: a vítima se deixa enganar.
8. Punição ou culpa: o agressor lesa ou prejudica um membro da família.
9. Mediação: apelo ou envio de socorro.
10. Consenso do herói: início da ação reparadora (função que Propp chama de início da ação contrária) O herói decide agir.
11. Partida do herói: o herói deixa sua casa e um novo personagem entra em cena para ajudá-lo, “o doador”.
12. Submissão do herói: passa por uma prova preparatória para a doação de um objeto ou de um auxiliar mágico.
13. Reação do herói: O herói reage às ações do futuro doador. 14. Fornecimento de meios mágicos: são colocados a disposição do herói.
15. Transferência do herói: transporte no espaço entre dois reinos.
16. Luta entre o herói e o antagonista: combate
17. Herói assinalado: recebe uma marca.
18. Vitória sobre o antagonista: o agressor é vencido.
19. Remoção do castigo ou da culpa inicial: reparação
20. Retorno do herói: sua volta
21. Sua perseguição: o herói e perseguido
22. O herói se salva: é socorrido Numerosos contos acabam no momento em que o herói é salvo dos seus perseguidores. Aquele volta a casa e depois casa-se, se chegou a salvar a jovem. Mas, está longe de ser sempre o caso. O conto submete o herói a novas desgraças(...). Em suma, a malfeitoria que tinha engendrado a intriga repete-se(...). E é o início de outra narrativa (Propp, 1983).
23. O herói chega incógnito em casa: ou em qualquer lugar, entra como aprendiz e fica por um tempo.
24. Pretensão do falso herói: alguém assume o lugar do herói e proclamam suas pretensões.
25. Ao herói é imposto um dever difícil: é submetido a uma prova.
26. Execução do dever: realiza a tarefa.
27. Reconhecimento do herói: é reconhecido pelo seu êxito.
28. Descoberta: “desmascaramento” do falso herói ou antagonista.
29. Transfiguração do herói: recebe nova aparência. 30. Punição do antagonista: o agressor é punido
31. Núpcias do herói: casa-se e sobe ao trono.
É claro, que nem em todas as fábulas estão todas as funções presentes na sucessão linear, no entanto não contradizem a linha geral, pelo menos nos contos de fadas russos, como afirma Rodari (1982). Mas, sem dúvida, o que Propp proporcionou de mais valioso foi com certeza redirecionar o nosso olhar para os contos de forma mais significativa, ou seja, não são apenas “historinhas” há algo escondido lá, nas “entre linhas”.
Em um artigo da revista Storytelling(julho, 1997) Anne Simpkson afirma que as histórias exercem um poder tão imensurável que mesmo quando ouvimos um conto com varias pessoas, nos sentimos isolados, isso porque as histórias não apenas refletem quem somos como indivíduos, mas também nos proporcionam vislumbres no caleidoscópio de mudanças da vida.
Relata que as histórias nos ensinam profundas lições sobre nós mesmos e sobre o mundo, enfim nos conectam com os mistérios da vida e às pessoas, nos curam e nos revigoram.
Estés(1996) também acredita no poder curativo das histórias afirmando que são como antibióticos que acha a fonte da infecção e se concentram lá. Relata que as histórias são mais que instrumentos de diversão, vão além no sentido mais antigo, são “uma arte medicinal”, uma energia “arquetípica”, poderosa que requer cuidado e muita responsabilidade para transmiti-la.
Relata que as histórias nos ensinam profundas lições sobre nós mesmos e sobre o mundo, enfim nos conectam com os mistérios da vida e às pessoas, nos curam e nos revigoram.
Estés(1996) também acredita no poder curativo das histórias afirmando que são como antibióticos que acha a fonte da infecção e se concentram lá. Relata que as histórias são mais que instrumentos de diversão, vão além no sentido mais antigo, são “uma arte medicinal”, uma energia “arquetípica”, poderosa que requer cuidado e muita responsabilidade para transmiti-la.
“Sempre que se conta um conto de fadas, a noite vem. Não importa o lugar, não importa a hora, não importa a estação do ano, o fato de uma história estar sendo contada faz com que um céu estrelado e uma lua branca entrem sorrateiros pelo beiral e fiquem pairando acima da cabeça dos ouvintes. Às vezes, ao final do conto, o aposento enche-se de amanhecer; outras vezes um fragmento de estrela fica para trás, ou ainda uma faixa de luz rasga o céu tempestuoso. E não importa o que tenha ficado para trás, é com essa dádiva que devemos trabalhar: é ela que devemos usar para criar alma."
Clarissa Pinkola Estés
Ententeder e decifrar os arquétipos subentendidos nas histórias é importante para a pessoa que pretende contar histórias, não a nível de interpretação, mas com um riquíssimo auxiliar para a orienração na seleção de histórias, das quais poderá sem dúvida explorar temas significativos, de modo sutil, escondidos na narrativa.
Assim, as histórias das história contam sobre a vida, sobre as pessoas, sobre a humanidade, sobre nós mesmos.
Bettelheim(1980) traduz que cada conto de fadas é como um espelho mágico que reflete alguns aspectos do nosso mundo interior,
e dos passos necessário para nossa maturidade.
e dos passos necessário para nossa maturidade.
Mergulhar nesse mundo não é fugir da realidade, pelo contrário é enfrenta-la com outras armas.
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