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Fantasia não rima com pedagogia...

“Nós queremos aprender tudo aquilo que nos ensinaram na escola...
mas, por favor, deixem-nos os sonhos.”
Paul Hazard


Radino (2003) afirma que contar histórias, muitas vezes gera um conflito para o educador, que ao deixar a criança viver livremente sua fantasia, provoca a perda de seu papel de educador, pois, o que a criança aprende com os contos, não é palpável na prática pedagógica, nem menos mensurável e fugindo do seu controle. Sendo o professor “a verdade” na sala de aula, como utilizar um recurso que tira a criança da realidade?

Dessa forma, o educador, constantemente, transforma um texto literário ou um “conto” em uma mentira, ou algo que não é verdadeiro, quebrando a magia da história. Assim, a criança criativa, que deixa fluir sua imaginação, não corresponderá ao modelo que foi idealizado pela pedagogia que tem: metas, conteúdos, currículos, normas, notas e toda uma parafernália a ser seguida rigidamente, e tudo o que foge ao controle, definitivamente, não se insere em seu discurso.

Bettelheim (1980) afirma em seu livro: A psicanálise dos contos de fadas, no capítulo “O medo da fantasia”, que algumas pessoas consideram que os contos de fadas não apresentam a realidade da vida, sendo, portanto desapropriados. Porém, essas pessoas são incapazes de vislumbrar que a realidade externa ou a “verdade” na vida de uma criança é diferente da dos adultos, que já possuem, é claro, uma bagagem de conhecimento e vivências muito maiores. Então, não percebem que “os contos de fadas” não tentam descrever o mundo externo e nem percebem que a criança entende esse processo. Os contos são referências, que a criança lança mão ao confrontar com a realidade, quando se pergunta se é verdadeira, quer saber se contribui com algo de importante para sua compreensão. Assim, infelizmente, como afirma Held (1980) o fantástico é encarado como um obstáculo, correndo o risco de ser considerado como algo “antilógico”, do ponto de vista dos adultos, por manter a criança no sonho em detrimento do real. Sendo assim, o que prevalece no contexto escolar é o racional:


Chapeuzinho Vermelho
Millôr Fernandes
Era uma vez (admitindo-se aqui o tempo como uma realidade palpável, estranho, portanto, à fantasia da história) uma menina, linda e um pouco tola, que se chamava Chapeuzinho Vermelho. (Esses nomes que se usam em substituição do nome próprio chamam-se alcunha ou vulgo). Chapeuzinho Vermelho costumava passear no bosque, colhendo Sinantias, monstruosidade botânica que consiste na soldadura anômala de duas flores vizinhas pelos invólucros ou pelos pecíolos, Mucambés ou Muçambas, planta medicinal da família das Caparidáceas, e brincando aqui e ali com uma Jurueba, da família dos Psitacídeos, que vivem em regiões justafluviais, ou seja, à margem dos rios. Chapeuzinho Vermelho andava, pois, na Floresta, quando lhe aparece um lobo, animal selvagem carnívoro do gênero cão e... (Um parêntesis para os nossos pequenos leitores — o lobo era, presumivelmente, uma figura inexistente criada pelo cérebro superexcitado de Chapeuzinho Vermelho. Tendo que andar na floresta sozinha, - natural seria que, volta e meia, sentindo-se indefesa,
tivesse alucinações semelhantes.). .
Chapeuzinho Vermelho foi detida pelo lobo que lhe disse: (Outro parêntesis; os animais jamais falaram. Fica explicado aqui que isso é um recurso de fantasia do autor e que o Lobo encarna os sentimentos cruéis do Homem. Esse princípio animista é ascentralíssimo e está em todo o folclore universal.) Disse o Lobo: "Onde vais, linda menina?" Respondeu Chapeuzinho Vermelho: "Vou levar estes doces à minha avozinha que está doente. Atravessarei dunas, montes, cabos, istmos e outros acidentes geográficos e deverei chegar lá às treze e trinta e cinco, ou seja, a uma hora e trinta e cinco minutos da tarde". Ouvindo isso o Lobo saiu correndo, estimulado por desejos reprimidos (Freud: "Psychopathology Of Everiday Life", The Modern Library Inc. N.Y.). Chegando na casa da avozinha ele engoliu-a de uma vez — o que, segundo o conceito materialista de Marx indica uma intenção crítica do autor, estando oculta aí a idéia do capitalismo devorando o proletariado — e ficou esperando, deitado na cama, fantasiado com a roupa da avó. Passaram-se quinze minutos (diagrama explicando o funcionamento do relógio e seu processo evolutivo através da História). Chapeuzinho Vermelho chegou e não percebeu que o lobo não era sua avó, porque sofria de astigmatismo convergente, que é uma perturbação visual oriunda da curvatura da córnea. Nem percebeu que a voz não era a da avó, porque sofria de Otite, inflamação do ouvido, nem reconheceu nas suas palavras, palavras cheias de má-fé masculina, porque afinal, eis o que ela era mesmo: esquizofrênica, débil mental e paranóica pequenas doenças que dão no cérebro, parte-súpero-anterior do encéfalo. (A tentativa muito comum da mulher ignorar a transformação do Homem é profusamente estudada por Kinsey em "Sexual Behavior in the Human Female". W. B. Saunders Company, Publishers.) Mas, para salvação de Chapeuzinho Vermelho, apareceram os lenhadores, mataram cuidadosamente o Lobo, depois de verificar a localização da avó através da Roentgenfotografia. E Chapeuzinho Vermelho viveu tranqüila 57 anos, que é a média da vida humana segundo Maltus, Thomas Robert, economista inglês nascido em 1766, em Rookew, pequena propriedade de seu pai, que foi grande amigo de Rousseau.
Extraído do livro "Lições de Um Ignorante", José Álvaro Editor - Rio de Janeiro, 1967, pág. 31
É vamos refletir garotas... contar histórias não é brincadeira, é trabalho sério!

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